Violação Sexual 3

Capítulo III: DENÚNCIA, JULGAMENTO E DESFECHO

Finalmente fomos denunciar o Salvador e seus amigos. Pensava ele que me tivesse em suas mãos, que eu seria sua marioneta, escrava sexual, pois antes de ser notificado pela justiça continuava com as ameaças e chantagem em relação à minha honra e reputação. A notificação da justiça chegou depois de uma semana acompanhada pela ordem de prisão preventiva contra si e seus amigos ainda desconhecidos. Por conseguinte, ele foi levado para a esquadra de C. 700 para o interrogatório com objectivo de revelar seus comparsas - para quem já passou ou presenciou as tácticas de interrogação da PRM sabe que o "chamboco" canta solto, por isso, em menos de 10 minutos revelou-os a todos.

Passou apenas o tempo necessário para o Ministério Público reunisse todas as provas para que fosse marcada a primeira audiência do julgamento do caso. Só para lembrar, como nós não submetemos a queixa ainda no hospital, os médicos não tinham obrigação de guardar os vestígios de violação, porém o senhor Salimo sabia que um dia denunciaríamos, pediu "como homem" para que eles os guardassem. Apesar de pouco tempo de convivência, o senhor Salimo comportava-se com um pai para mim e para minha mãe devolveu a alegria de viver, eles já estavam a namorar.

Graças às provas do hospital comparadas com o ADN/DNA dos violadores, o julgamento não durou muito tempo, tendo sido de apenas 3 audiências com intuito de provar que não houve consentimento da minha parte, pois esta era a defesa deles. Lembrando que para mulheres maiores de 13 anos quando existe consentimento o acto sexual não configura crime, enquanto para mulheres (meninas) de idade igual ou menor que 12 anos, o acto sexual configura crime mesmo com consentimento, pois entende-se que elas ainda não possuem discernimento necessário.

Voltando ao julgamento, caiu por terra a teoria do meu consentimento e a sentença ditou: para Salvador 8 anos de prisão maior e multa no valor de 200 mil meticais por danos morais e psicológicos (ameaças e chantagem) e por lesão corporal; seus comparsas foram condenados 8 anos de prisão maior. Isto aliviou em parte os meus problemas, pois ainda tinha de ir ao psicólogo uma vez por semana para superar o trauma, sempre vou à escola acompanhada, o medo ainda faz o mesmo.

As coisas melhoraram, para o ano vou estudar na escola do antigo ISTEG. Eu e a mamã vamos nos mudar para Belo Horizonte, caso do namorado dela, o senhor Salimo, agora meu padrasto.

Ainda sou nova, meu "final feliz" ainda vai chegar, por enquanto vou superando as marcas desse trágico acontecimento aos poucos, um dia de cada vez. Vou cuidar de mim, só daqui a alguns anos pensarei no amor, quando já estiver a sentir-me limpa e sem "medos".


HOMEM PARE DE TRATAR MULHER VÍTIMA DE ABUSO SEXUAL COMO OBJECTO, COMO SE ELA NÃO TIVESSE O DIREITO DE ESCOLHER A HORA DE CEDER PARA O ACTO SEXUAL, COMO SE ELA FOSSE FÁCIL, é por isso que escondemos que fomos violadas, para evitar esta pressão social. Portanto, temos direitos como qualquer outra mulher; infelizmente muitos casos de violação não são julgados e as vítimas ficam reféns de seus violadores e com traumas que no pior dos casos pode levar-lhes à demência!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Rotina

Vivi A Moda

Violação Sexual