Violação Sexual 2
Capítulo II: CONSELHOS E CONFLITO PESSOAL
... Infelizmente os bandidos conseguiram fugir pela parte traseira do terreno quando ouviram a movimentação do senhor Salimo (o patrão) e seus funcionários, porque o terreno ainda não tinha nenhuma vedação. Por isso, felizmente também estou viva; encontraram só a mim estatelada no chão, quase moribunda, sequer conseguia falar e estava em choque. Fui carregada para uma carrinha - Toyota Hilux - levada para o Hospital Provincial da Matola, onde recebi o melhor tratamento possível, não por mim e nem porque tratava-se de médicos e enfermeiros dedicados aos seus pacientes, pois via como "mal" tratavam os outros, mas porque o senhor Salimo prometera recompensá-los se assim procedessem. Dia seguinte o choque já havia diminuído, conseguia falar pouco e forneci contacto da minha mãe para que a pudessem contactar, não demorou muito mais do que uma hora ela já se encontrava no hospital - preocupada com a repercussão do caso do que comigo!
Apesar do conselho dos médicos não submetemos nenhuma queixa-crime... No terceiro dia tive alta hospitalar, mal sabia eu que o meu pesadelo só estava a começar, minha mãe dizia que ninguém podia saber porque eu seria mal vista na zona e que no futuro ser-me-ia difícil conseguir um homem que me levasse à sério, isto é, que eu não conseguiria casar. Fora minha mãe, as demais pessoas em que eu confiava colocavam-me para baixo com seus conselhos, apresentava-lhes o problema como se não fosse meu só para colher suas impressões, o resultado não foi dos melhores, a tónica era a mesma que da minha mãe: "menina ou mulher violada vale pouco perante a sociedade e é susceptível de descriminação, pois se foi violada é porque de alguma forma provocou...", não concordo, nada justifica a violência, mesmo se usasse roupa provocativa, o que não é meu caso e as pessoas devia apoiar as vítimas e não tentar justificar maldade dos outros, infelizmente a nossa sociedade é machista. Eu já estava em dúvida - se eu era a vítima ou a culpada (criminosa) - tornei-me numa pessoa anti-social porque só ficava trancada dentro do quarto e não conseguia encarar ninguém, pior os homens que deles só queria distância.
A solidão era meu refúgio, sentia medo de sair de casa, de ir à escola, se fosse sentava na última carteira encostada à parede para que não fosse notada e muito menos encarada. Outro dia terrível, a minha volta da escola encontrei dos meus piores pesadelos - o maldito Salvador - que como não deixaria de ser, sobrecarregou-me de ameaças, a pior foi a de que eu devia apresentar-me uma vez por semana em sua casa para mantermos relações sexuais, caso contrário, contaria que eu participei numa "orgia" colectiva e consentida com ele e seus amigos e por isso eu sou uma "putinha" - como ele próprio disse. Estava eu sobre a espada e a parede, o que fazer? Não queria envolver-me com ele, primeiro porque eu sou menor (criança), não estava preparada para aquilo - pois fui violada e não por vontade própria - segundo ele me dava nojo, era fonte de más memórias e constituía o ser mais desprezível da terra para mim.
Como disse, fui violada mas parecia eu a culpada, julgada e condenada. Estava cansada da situação em que me encontrava, denunciar era a única alternativa, mas minha mãe não queria, os mais próximos eram da mesma opinião apesar de não saberem que se tratava de mim. Procurei pessoas especializadas na matéria e um grupo anónimo de mulheres vítimas de violência sexual. Foi-me dito que era possível denunciar e a pessoa ser julgada sem que se exponha a vítima, que na verdade é o que acontece nestes casos. Conversei com a "mamã" sobre as ameaças do Salvador e sobre o que aprendi naquele grupo - falo só da "mamã" porque sou órfã de pai - A mamã concordou, procurou informar-se mais acerca do assunto. Neste processo todo estava ali o senhor Salimo que se tornou próximo da minha mãe...
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